Conversa com a porta da geladeira

    Então é meio do ano (mais ou menos) e minha cabeça andou cheia e transbordando para todos os lados, menos onde eu quero, que é nesse teclado. Andei guardando vários rascunhos, alguns de uma palavra ou frase só, e outros que eu até terminei mas não gostei muito por razões quase sempre indefinidas. Estão no limbo: textos sobre uma ida a escola, um mangá que eu li, um filme que eu vi, uma carta, etc. Todas essas coisas que foram ficando na minha mente, mas que não consigo transformar em palavras escritas ou ditas, e o acúmulo faz minha cabeça doer, no sentido literal mesmo. Em compensação, ando pensando muito em escrever, em histórias, imaginando muitas coisas. Mas também não escrevi nenhuma delas. Tudo isso me leva a questão: por que eu escrevo? Por exemplo, eu escrevo listas de supermercado, mensagens, números de telefones, todas essas coisas que tem motivos e objetivos fáceis; mas essas outras coisas mais que eu escrevo, qual o motivo, objetivo, o que eu escrevo e por que eu quero tanto continuar escrevendo? É o que eu ando me perguntando.

    Eu passei para a faculdade, mandei meus documentos e agora eu estou esperando o próximo aviso e o começo das aulas. Na verdade, faz uns meses que a primeira parte aconteceu, mas não cheguei a contar para muita gente por ter sido praticamente junto com a covid na minha casa, e eu passei quatro meses sem publicar nada aqui também. Minha mãe chorou e contou para todo mundo, e eu fiquei toda eufórica e sem acreditar, que eu ia ser a primeira da família inteira em uma faculdade dessas, que meu nome estava ali naquela lista mesmo.

    Meses depois, eu ainda sinto essas coisas, só que mais perdida também. Olhando seis meses para trás, passei esse tempo todo fazendo nada, mandando currículos e recebendo e-mails dizendo que não fui aceita em seguida, fantasiando sobre o futuro (que antigamente eu imaginava que seria o presente, mas acabou sendo adiado) e ouvindo a pergunta "o que você vai fazer da sua vida?". Eu respondo "não sei nem o que estou fazendo da vida agora" em um tom de ironia, mas é isso mesmo. Talvez seja o tempo em casa que faz tudo parecer tão estranho, essa sensação de não estar indo pra lugar nenhum. Fiquei falando sozinha sobre tudo isso por uns minutos enquanto encarava o calendário da porta da geladeira; que ir para algum lugar também inclui fazer as coisas chatas até lá, viver todos os dias normais, ter as conversas desagradáveis que só se pode ter pessoalmente e tudo mais. Senão, parece que você só está pulando de um lugar para outro sem nem sentir, pelo menos é o que eu sinto agora. Aí eu percebi que eu estava falando com uma porta de geladeira, e peguei minha garrafa de água silenciosamente.

woah woah let's keep the feelings

    Eu também andei lendo, assistindo e ouvindo muitas coisas, porque acho que não vou ter tanto tempo para isso no futuro. Comprei um livro chamado "Entre Irmãs" em uma feira a dez reais em um dia que precisei ir na loteria. É um livro bem grande, de quinhentas páginas, e por imaginar que ele deveria ser muito mais caro normalmente, eu comprei. Basicamente, é sobre duas irmãs costureiras que vivem em uma cidade do interior de Pernambuco e que acabam se separando, uma se casa com um homem de família rica e a outra se une ao cangaço. Eu ainda estou na página 150, então não vou dizer se é bom ou não agora, mas estou achando bem interessante, me lembra as histórias que minhas tias e avós contavam. Soube que também tem um filme dele, mas acho que vou deixar para ver depois que eu terminar. 

    Atrás de umas histórias mais levinhas, eu assisti SK8 The Infinity, que é um anime sobre amigos skatistas que disputam corridas secretas em uma pista clandestina onde tudo é permitido (incluindo tentativas de assassinato). Foi bem divertido, e eu fiquei com muita vontade de aprender a andar de skate e de ter amigos que me acompanhassem nessas loucuras. Aliás, por estar acompanhando coisas demais, eu andei usando vários sites de listas para lembrar o que estou vendo e lendo, e acabei deixando a lista de coisas que eu quero ver ainda maior. Quem sabe ainda dê tempo para tudo?

    Esse post é como uma colagem de pequenas atualizações que eu estava tentando escrever há um tempo. Minha cabeça até aliviou depois disso. Enfim, você aí: tenha uma boa semana.

Mari, 19.06.21.