Eu não sou mais minha casa

"estou aprendendo todo dia a permitir que o espaço entre o que eu quero ser e onde estou me inspire e não me assuste"
 Meu cabelo anda caindo mais que o normal. Eu percebi pelos fios que se acumularam no chão do meu quarto, em apenas três dias. Foi como ver a minha ansiedade fora de mim, se isso fizer sentido. Nesses dias, eu andei nauseada o tempo todo e não consegui dormir por mais de cinco horas por noite. Quase tudo que eu fiz, falei e escrevi soou essencialmente errado para mim. Andando de um lado para o outro na minha casa, pelo delimitado espaço dela, ela me pareceu desconhecida. Eu senti falta de... casa.
 Eu acredito que "casa" é um conceito um tanto específico, uma intersecção de vários outros. Pode ser um espaço físico, o quadrado onde uma ou mais pessoas moram; Mas nem sempre uma casa inteira é uma casa. Ás vezes, um quarto, um quadrado menor, é mais casa que a soma de outros cômodos. E nem sempre uma casa, no geral, é uma casa. A casa também é a sensação de casa. De conforto, normalidade, segurança. Acho que é a sensação de poder tirar os sapatos e se sentir intimamente livre, seja para rir, chorar, falar sozinho, ouvir o mesmo álbum pela décima vez, ver um filme duvidoso, queimar fotos... até de pensar o que não se permite pensar fora de casa. Essa pequena liberdade de ser, só para si mesmo.
 Mas essa sensação nem sempre é constante, e nem sempre está no delimitar de paredes. Dá para se fazer uma casa de várias coisas, embora nem todas sejam recomendadas. Uma casa pode ser um espaço de tempo, por exemplo, um período do passado. Eu já fiz isso, algumas vezes, mas não vale a pena. O tempo passa, simples assim. E uma casa no tempo é uma casa que fecha depois de algumas semanas, meses, anos. Depois disso, é só uma memória, um lar que não volta. Ah, e eu só tenho dezessete anos.
 Uma casa pode ser outra pessoa. Não recomendado.
 Uma casa pode ser você mesmo. Aliás, acho que nós somos nossa casa, meio que obrigatoriamente. Quase sempre.


 Eu ando desconfortável dentro de mim mesma. Inquieta, presa. Quando meu corpo dói, parece pior, como estar em um lugar caindo aos pedaços. Ás vezes, eu não me permito pensar no que eu quero pensar. Talvez seja isso que tenha tornado tão difícil o meu fazer, falar, escrever; minhas palavras ditas não completam as lacunas que eu criei. E entre minha vida interior e exterior, há essa dissonância. Eu não ando me sentindo como... eu. Minha vida não anda sendo minha casa. Eu não ando sendo minha casa.
 Por isso, eu cheguei a conclusão de que quero mudar. Acho que preciso, até. Ando tentando me permitir pensar, falar o que eu sinto. Parece tão básico, mas se você sempre foi acostumado a se censurar, é um pouco difícil. Eu mudei o layout do blog, tentei usar mais cores que eu gosto, e foi divertido mexer com os códigos e paletas. Escrevi tudo que pensei nos últimos dias em um caderno. Não falei muito, mas usei as palavras mais sinceras. Eu me senti um pouco melhor, um pouco em casa.
  Então, para marcar isso, eu escrevo. Acho que nisso eu não mudo.
  Talvez o isolamento tenha me dado o tempo para fritar meu cérebro em pensamentos longos assim. É bom se examinar de vez em quando, de verdade. Não sei em quanto tempo minha casa (física) vai voltar a parecer minha casa, por quanto tempo meu cabelo vai cair de ansiedade. Eu estou tentando encontrar minha casa. Acho que é tudo por agora.

ch-ch-ch-ch-changes

Com amor, Mari.
07.04.20.

5 comentários:

  1. me vi muito nesse texto. te compreendo muito.
    e espero que fiquemos bem ♡
    também estou tentando mudar. e pra melhor a cada dia. estarei longe das redes sociais a partir de hoje. e tentarei me conectar comigo mesma ao máximo.
    seu layout está muito lindinho e agradável ♡

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    1. oi, géorgia! que saudade de te encontrar por aqui aa
      eu também espero ♥ eu já passei alguns tempos sem redes sociais, e acho que é bom para refletir, se concentrar em si mesmo, espero que te ajude. enfim, tudo de bom para ti
      muito obrigada ♥ abraços!

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  2. Fica bem, está bem?

    Faça as coisinhas que você mais gosta, leia um livro divertido, assista a uma comédia-romântica, faça uma meditação guiada... Qualquer coisa que escolher, apenas tente relaxar e sintonize com o positivo que ainda circunda o universo, mesmo nesses tempos difíceis.

    Beijos açucarados

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    1. olá, Bruna!
      eu estou tentando fazer essas coisas para relaxar, principalmente as leituras. não tinha pensado em meditação, mas acho que vou dar uma procurada! obrigada pelos bons desejos, eu vou tentar encontrar essa sintonia ♥
      beijosss

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  3. olá, Carol
    realmente, anda sendo importante reservar esse tempo particular agora. fico feliz que você está melhor, espero que eu consiga também
    um beijo e obrigada! ♥

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