Dias

 Toda vez que eu volto aqui após um tempo sem escrever, noto o quanto as coisas podem mudar silenciosamente em semanas. Anda sendo difícil organizar meus pensamentos em palavras, ainda mais porque passei  um tempo longe da caneta; faz uma semana que venho tentando escrever um pouco, mas nada parece sair organizado ou melódico como eu gostaria. Mesmo assim, eu decidi tentar, senão jamais vou voltar a escrever. Às vezes, é preciso simplesmente escrever, sabe? Mesmo que seja desorganizado e cacofônico. Eu tenho muita dificuldade em fazer isso, mas eu preciso aprender.

 Setembro anda sendo um mês longo; para mim, esse é sempre o mês mais longo e lento do ano, por algum motivo talvez subconsciente. As últimas semanas pareceram eternas, e ainda há mais uma inteira por vir. Eu nem lembro direito do início desse mês, porque parece distante agora. Minha memória mais longínqua é que eu ouvi Wake Me Up When September Ends por impulso na noite do dia 3.

 No geral, eu diria que a experiência anda sendo como a de escutar uma música muito longa (e meio pink-floydiana até): eu tive dias muito cheios e corridos e dias calmos, quase vazios. Tive dias fáceis e dias difíceis. Tive um dia que eu fui no Centro numa manhã de quarta-feira e me permiti não me preocupar com nada por quatro horas, e tive dias de provas, obrigações e estresse intermináveis. O dia que tive uma aula sobre Nietzsche e minha professora citou aquela frase popular de um outro filósofo: "Um indivíduo não pode entrar duas vezes no mesmo rio", e o dia que eu fiquei triste encarando fotos antigas e pensando no passado. Os três dias em que eu li A Hora da Estrela, da Clarice Lispector, e os dias que eu pensei no livro quase sem parar. Os dias que eu saí com meu namorado e os dias que fiquei em casa ouvindo Radiohead. Enfim, são dias e dias.

 O que mais eu posso dizer? As coisas acontecem quando você se distrai. Não só as coisas, mas nós mesmos também. Outro dia, eu notei que uma frustração muito forte minha já não tinha significado. Já não tinha há muito tempo. Os sentimentos até permaneceram, mas os motivos já não tinham sentido ou importância; e eu, que me agarro muito a mim mesma, não percebi. São muitos os planos e gostos e partes de nós que se perdem por aí. Eu mudei silenciosamente em relação a mim mesma também. Talvez eu precise me reencontrar, ou me reconhecer.

 Mas por enquanto, eu vou focar em terminar minha semana de provas; depois, eu vou focar nos meus pequenos planos ainda não nomeados, vou procurar as rotas nos meus mapas empoeirados, e… vou escrever, simplesmente. Acho que é isso.

(Eu ando ouvindo muito essa música e decidi registrar aqui)

- Mari, 24.09.19

P.S: Eu troquei o layout do blog!! Ainda vou atualizar algumas coisas mas fiquei feliz só por conseguir terminar, mesmo sem PC. Espero que gostem.