Última dos Dezesseis

 Amanhã é meu aniversário de dezessete anos. Hoje é o último dia em que eu durmo e acordo ainda com meus dezesseis.

 Sempre nessas vésperas de aniversário, eu fico flutuando entre dois estados mentais: fico relembrando minha idade, que está prestes a se tornar antiga, e imaginando a idade que virá no dia seguinte. Inclusive, esse blog, que fez um ano há dois dias, nasceu nesse espaço de tempo: três dias antes do meu aniversário de dezesseis, quando eu estava ansiosa para assoprar as (dezesseis) velas e cantar "sixteen, clumsy and shy…" sem parar um ano inteiro. No final, eu nem cantei tanto assim.

 Meu aniversário de dezesseis não foi muito bom. Eu estava triste, simples assim. As razões me falham a memória, mas o sentimento não se perdeu tanto. Não fiz nada do que eu queria, quase todo mundo esqueceu, passei o dia todo sozinha ouvindo músicas tristes, ganhei um bolo de noite, dormi. Esse foi meu primeiro dia de dezesseis.

 Agora, olhando para os demais dias, não foi um dos melhores anos da minha vida. Andei triste e meio desligada. Alguns esforços meus foram vãos, algumas conquistas minhas tiveram que passar, algumas coisas precisaram ser deixadas. Perdi amigos, alguns sonhos (mas não todos, nem a maioria), certas alegrias que eu nem notava que importavam. Pensei em desistir. Não sei se digo que sofri ou que cresci; os conceitos são interligados o bastante.

 Apesar disso, essa idade teve suas horas douradas; estar tranquilo e contente enquanto impaciente e indeciso não me parece mais contraditório. Coloquei minha energia em tentar coisas novas, seja na arte ou na própria vida mesmo. Tive boa companhia do meu lado, de gente que eu gosto. Aprendi muito com tudo, até nas piores horas. Não digo isso como um ode às dificuldades desnecessárias e o aprendizado doloroso; mas eu me nego a tocar lamentos e requiéns por elas todos os dias. Acho que já fiz isso vezes demais.

 Hoje, entre essas duas idades, acordei mais alegre que nos dias normais, mesmo com frio e atrasada. Decidi pintar o cabelo no meio do dia, um pouco para renovar alguma coisa através do cabelo. Mas só renovar o cabelo já ficou muito bom. Não estava nada animada para os dezessete depois dos dezesseis; confesso que eu ainda poderia estar um pouco mais animada do que agora. Mas ainda assim, eu me senti tocada pelo sol hoje, com a alegria bem fina de um bom presságio. Ando contando com uma certa sorte também. Sete é meu número da sorte, e meu aniversário esse ano cai no dia da semana em que eu nasci. Pode ser bobo e supersticioso, mas uma fé nos bons ventos não é de todo mal.

 Em poucas horas, eu faço dezessete. Sei que nada vai mudar magicamente na passagem do dia, mas entre esse olhar para trás e para frente, fico feliz por ter uma mudança, uma nova chance, saber que nada será como antes amanhã, mesmo que metaforicamente. Sentir a energia para mudar, acertar, ou ao menos tentar. Até comemorar com mais alegria, como uma astronauta que reencontrou sua nave no meio do espaço. Acho que é o que mais preciso.

 Ah, e eu também espero cantar "dancing queen, young and sweet, only seventeen…" várias vezes. Dessa vez, eu vou.

- Com amor, Mari

06.08.19