Eu andei triste nas últimas semanas. Triste de chorar sem fazer barulho, de ouvir a mais triste do The Smiths por horas e horas, de sentir que encarar o ventilador de teto era a única coisa que eu conseguia fazer.
Meu eu de treze anos odiaria ler essa declaração inicial. Naquela época, eu preferiria mil vezes a morte a admitir que estava deprimida e meu cérebro era uma bagunça química. Agora, com dezesseis, sinto que perdi a vergonha de falar sobre isso, afinal, a tristeza não é nenhum sentimento alienígena e a depressão não é (não deveria ser) um tabu. Mesmo ruim, não é como se não fosse parte de mim. E, às vezes, ceder aos meus falhos neurotransmissores é mais saudável que me forçar a manter uma falsa positividade.
Mas, ontem, eu decidi que eu deveria dar uma "pausa" na melancolia, levantar (não é tão fácil quanto parece quando escrevo) e cumprir com algo que estava há semanas na minha agenda: ir à primeira aula de música.
No início, eu estava temerosa se eu realmente teria a energia, se eu chegaria bem naquele bairro que eu nunca tinha visitado sozinha em um ônibus, com medo até de passar mal ou me arrepender de ter saído de casa.
(Nada disso aconteceu.)
Peguei um ônibus quase vazio e sentei olhando para a janela, mais calma que eu achei que estaria. O trajeto foi curto, quinze minutos que eu nem notei que passaram. Fui bem recebida por um professor e três alunas alegres; aquela receptividade e alegria que parecem preencher o ambiente; e a minha energia soturna parecia evaporar ali.
Na concentração entre explicações sobre teoria musical e o som dos instrumentos, eu conheci o violão. Eu nunca tinha pego um na vida (sério mesmo), e segurei-o como se fosse um recém-nascido feito de vidro no meu colo. Aprendi a segurar o violão direito, arranhei algumas notas entre as cordas, completamente admirada, como se fosse mágico, extraordinário. E, de verdade, foi sim.
Despedi-me das alunas e do professor no fim da tarde (tarde essa que nem senti passar) com os dedos vermelhos. Agradeci pela aula, prometi voltar na semana seguinte, fiz minha inscrição e saí. O céu estava uma mistura de azul com nuvens brancas e rosadas, e o vento reverberava pela avenida, com o som das árvores, dos carros, dos passos. Talvez não tenha sido tão belo em uma terceira pessoa, mas eu estava quase inebriada de sensações, de modo que tudo parecia mais bonito. Entrei no meu ônibus, sentei-me na janela, encarando a rua. Quinze minutos, sem pressa de chegar.
No silêncio dos pensamentos, me peguei pensando na tristeza e nas dificuldades, somados com aquela tarde quase onírica, e me veio esse pensamento: nós nem notamos que o tempo passa.
Nós nem notamos que o tempo passa. Nós nem notamos que a tristeza, a raiva, os problemas, a vida passa por nós. Três anos me separam dos meus treze anos, que parecem próximos e distantes ao mesmo tempo, e tanta coisa se passou que eu nem sei se eu me reconheceria, e meu eu de treze anos provavelmente ficaria chocada que eu superei tudo que me abatia, mudei tanto, sem nem perceber. E assim se segue. Anos, meses, semanas, dias passam. E nem percebemos.
Devo dizer: minha crise depressiva não passou magicamente e nem os problemas sumiram. Entretanto, confesso que pensar nisso me confortou, como uma mensagem de um velho amigo sussurrada na minha mente. O tempo passa. Os problemas passam. A tristeza, a raiva, a dor passa.
E, sendo sincera, tudo que eu mais quero agora é que o tempo passe.
- Escrito entre 20 e 21 de janeiro.
olha, não sei nem o que dizer depois desse texto, só sei que fiquei muito feliz por tu ter se dado tão bem na aula de música e ter vencido essa força ruim que nos prende na cama. o que eu diria pra ti, tu mesma já citou no texto: tudo passa.
ResponderExcluirtu é mais forte que essa energia ruim, tô torcendo pra que mais e mais coisas boas aconteçam na tua vida e que o tempo passe, trazendo mais.
beijão ♡
olá, tasha
Excluirobrigada pelo comentário e pelas palavras de apoio, fico feliz por você ter ficado feliz lendo minha experiência. eu torço que o tempo passe e mais coisas boas aconteçam também (para todo mundo) ♡
beijos e muito obrigada ♡
Oi Mari!!! Você não tem ideia do quanto ler sobre a sua alegria me motivou! Eu tô tão feliz por você na aula de música! Pela forma que você falou soa como algo que você queria fazer há bastante tempo! Ver que você conseguiu sair da comodidade de enrolar me fez ter esperança de que consigo o mesmo! Eu estou imensamente feliz, de verdade! Amo como suas palavras soam como música, cheias de melodias e fazem as suas histórias se tornarem um filme na minha cabeça. Você é absolutamente demais! Fico muitíssimo alegre por ter a oportunidade de ler seu blog, que aliás ficou uma belezinha! Obrigada por compartilhar momentos e aprendizados! Eles me dão esperança. ♡
ResponderExcluirolá, cilis! ♡
Excluireu fico muito feliz por ter te alegrado e te motivado, obrigada pelos elogios e por suas palavras carinhosas que tanto me alegram ♡
eu sempre quis fazer aula de música e eu estava marcando de visitar esse cursinho há uns dois meses, então realmente era algo que eu queria fazer há um bom tempo KNKJMK enfim, obrigada pelo comentário e por sempre compartilhar felicidade aqui (eu fico até meio tímida para responder knkjjk aa), saiba que você é incrível e também consegue sair da comodidade! ♡
isso tudo foi tão bonito, tu escreve tão bem. eu li em voz alta porque imaginei iniciando como aqueles filmes cults narrados pelo protagonista, e caiu tão bem. terminei de ler e fiquei pensando se isso era uma história da tua vida, ou uma história fictícia. concordo com tudo, e também estou me sentindo um tanto triste. tu escreve muito bem mesmo.
ResponderExcluircom amor ❤
olá, gabi
Excluirobrigada pelos elogios, você fez eu me imaginar como narradora de filme indie cult e isso foi divertido de pensar aakjkjj ♡ (eu amo muito esse tipo de filme com narração)
é uma história da minha vida mesmo aa;;
agradeço pelo comentário (e desejo que sua tristeza passe também) ♡
abraços ♡
Oiiii mari, acabei de conhecer seu blog e adorei. Te achei uma pessoa muito talentosa para a escrita e espero que você saia dessa. Amei o jeito que você narra suas experiencias. E por acaso era asleep? :c
ResponderExcluirolá, Milly!
Excluirobrigada pelo elogio e pelo apoio. eu estou melhor na medida do possível, tentando me cuidar. fico feliz por você ter gostado da minha escrita, muito obrigada ♡
(foi i know it's over, mas eu ouvi um pouco de asleep também, ambas estão no topo do ranking de mais tristes dos smiths)